terça-feira, 25 de maio de 2010

26/05, as 17:00hs, CONVERSA COM ADREAS VALENTIN E MARCOS BONISSON NO SANTANDER CULTURAL

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ATIVIDADES SIMULTÂNEAS

Convidamos você a participar da programação simultânea à mostra HORIZONTE EXPANDIDO, participando do programa 10 Passeios, dos debates, lançamentos de livros e do ciclo de cinema que integra o projeto.

10 Passeios

Nesta atividade, dez grupos pré-agendados serão conduzidos por André Severo e Maria Helena Bernardes por dez diferentes roteiros pelo espaço expositivo. Em cada passeio serão vistas e comentadas obras distintas. As caminhadas serão pontuadas por paradas para conversa sobre momentos específicos da obra de cada artista, entendidos como instrumentos potenciais para mudanças de curso significativas, momentos de invenção em que os artistas produziram soluções que afetaram o curso de sua produção pessoal, de sua própria geração ou de gerações posteriores.

Programação *

Passeio 1: 29/05, 11h

Passeio 2: 02/06, 11h

Passeio 3: 09/06, 11h

Passeio 4: 16/06, 11h

Passeio 5: 23/06, 11h

Passeio 6: 30/06, 11h

Passeio 7: 07/07, 11h

Passeio 8: 28/07, 11h

Passeio 9: 04/08, 11h

Passeio 10: 14/08, 11h

* Os passeios ocorrerão mediante inscrição prévia para grupos de até 20 pessoas pelo telefone: (51) 3287.5940 / (51) 3287.5941 e e-mail: ecult03@santander.com.br INSCRIÇÕES GRATUITAS

DEPOIMENTO DOS CURADORES


Criamos Areal no início de 2000. Trata-se de um projeto em arte e humanidades cujo principal objetivo é trazer a público trabalhos artísticos, filmes experimentais e publicações dificilmente viabilizados em âmbito institucional. Desenvolvido em trânsito a partir de discussões que realizamos durante uma série de viagens que fizemos pelo Rio Grande do Sul, o projeto toma da paisagem do Sul do estado a imensidão de campos, água e areia como símbolo dos limites cada vez mais imprecisos da arte como disciplina na atualidade. Nossa proposta, inicialmente, era a de que de Areal partissem os meios para que se realizassem investigações artísticas intensivas (veiculadas sem mediação) com o intuito de resgatar a um primeiro plano a experiência direta entre artista/autor e público. Hoje, definimos o projeto simplesmente como uma plataforma de trabalho, vida e encontros entre pessoas e pensamentos. É uma aposta na potência de uma espécie de transpasse da experiência artística em direção a situações heteróclitas encontradas na realidade e, das quais, a arte brota, certamente, mais vigorosa. Esses dez anos de Areal nos proporcionaram um entendimento valioso, em um sentido pessoal que, acreditamos, vale a pena compartilhar. Para nós seja no campo da arte ou no terreno das decisões cotidianas, a intensidade da experiência esmaece sempre que se deixa sedentarizar – e por isso, talvez, a palavra “areal”, que sugere imprecisão, movimento suave, amplitude e desconhecimento de limites.
Segundo o ponto de vista que norteia as ações de Areal, o fazer artístico está es­trei­tamente ligado à produção reflexiva, seja ela expressa em textos de artista, em falas, em livros, entrevistas, etc. Por isso, além do fomento à produção de trabalhos (sejam nossos ou de outros convidados) o projeto Areal mantém a série de livros Documento Areal e, entre suas atividades, promove debates abertos ao público, onde são apresentados ações e filmes produzidos pelos artistas participantes, e, também, onde são divulgadas as publicações do projeto. É nesse momento de encontro que se dá o compartilhamento dos resultados de nosso trabalho e onde temos um retorno, normalmente participativo e caloroso, por parte das pessoas que o acompanham. Através desse conjunto simples de atividades – realização/apresentação de trabalhos artísticos, publicações e debates –, pretendemos contribuir para a reflexão a respeito do entrecruzamento de atitudes, convenções, interrogações e desejos que estimulam a realização de uma experiência artística a conquistar novos colaboradores e a imiscuir-se em momentos comuns da vida cotidiana. De certa forma, as atividades de Areal convidam a uma reflexão a defasagem do modelo expositivo convencional em relação á parte da produção atual, que nem sempre resulta em objetos para expor, mas às vezes, se traduz em um livro, uma fala, uma caminhada, por exemplo. Em nossos debates, inevitavelmente esses problemas são trazidos à tona, pois as pessoas percebem que, apesar de não dar conta dessa diversidade, o modelo do museu tradicional continua sendo proposto como formato de novas instituições destinadas à apresentar a arte de nosso tempo. Nossa expectativa é que as ações, publicações, debates e filmes gerados por Areal alimentem a discussão sobre a pluralidade de formas, meios e procedimentos que participam da arte atual e incentive o público a acolher e a também estar atento para a produção artística que se realiza para além dos eventos culturais. Não é uma discussão nova, mas permanece aberta e se mostra necessária, inclusive, para a visibilidade de outros formatos de apresentação e interação entre arte e sociedade. Entendemos que esse debate envolve não apenas artistas, mas o público que se interessa por arte, os educadores, formadores de opinião e as instituições que se propõem a lidar com a arte atual.
Levamos muito tempo até conseguirmos nos permitir a liberdade de abordar as pessoas com quem trabalhamos considerando-as como sujeitos, fora da condição de público. Acreditamos que essa possibilidade resulte do “descondicionamento profissional” que nossa experiência em Areal vem nos proporcionando. Desde a faculdade e, principalmente, no dito “exercício profissional“, o artista introjeta a ideia de que deve se dirigir ao outro, a quem destina seu trabalho, como “público de arte“. A relação artista-público existe, é, claro, e não deve ser desprezada, contudo, entendemos que não se pode reduzir um ser humano a essa ou a outra categoria qualquer. Nossa meta é, sempre, encontrar alguma possibilidade de compartilhamento de experiências. Não é porque propomos ou aceitamos esta ou aquela ação, dentro deste ou daquele contexto específico, que achamos que qualquer tipo de hierarquia tenha que ser estabelecida. Todo mundo é público, estudante ou profissional, em algum momento da vida, mas ninguém é só isso e não se define uma pessoa pelo que está escrito em um crachá, ou em uma ficha técnica. Quando trabalhamos em Areal, pensamos em estar com as pessoas da mesma forma que gostaríamos que elas estivessem conosco, sem portar nenhum crachá, visível ou invisível, sendo o que elas são quando estão distraídas, tomando o café da manhã, por exemplo. Gostaríamos que elas dividissem um pedaço de seu dia conosco, sem esperar receber ou dar nada, apenas vivendo uma situação de compartilhamento de experiências que transcorra dentro do espaço de convivência que a rua oferece, de forma tão maravilhosa, a cada momento. Todo mundo tem prática de viver no espaço imprevisto da rua, em que podemos ser abordados por um estranho, informar ou pedir as horas, comentar o tempo, dar uma informação. Com sorte, conhecemos gente fantástica e trocamos coisas valiosas nesses imprevistos. Participar de Areal é mais ou menos assim, como perguntar as horas ou aceitar que alguém nos ajude a desatolar o carro.
Não acreditamos que a arte tenha que ter alguma característica específica e nem que ela precise estar apoiada em algum tipo de instrumento de mediação para que possa ser compartilhada e experienciada intensa e completamente junto ao público ao qual se destina. A arte é um produto humano; e, portando, não deve ser estranhada pelo humano. Sem dúvida, toda a arte carrega um sentido amplo, pois ela requer uma descoberta e uma reinvenção de sentidos para ser fruída. Entretanto, isso ocorre quando admiramos uma paisagem holandesa do séc. XVII, quando estamos diante do altar de uma de nossas igrejas coloniais ou quando desfrutamos de uma pintura naïf ou de uma performance. Queremos dizer com isso, que o mérito de estimular uma troca direta não é exclusivo de iniciativas como a nossa. Talvez se possa pensar, é claro, que alguns trabalhos sejam mais fortemente imbuídos de um sentido interativo ou, ao menos, colaborativo. No caso de nossas ações, creio que sim, elas carregam bastante desse sentido colaborativo, de uma vontade genuína de compartilhamento, e resulta, também, de nosso profundo mal-estar em relação ao pragmatismo em que se encerrou a relação artista-público no universo dos eventos culturais. Nossa completa falta de identificação com esse modelo nos levou a buscar trocas mais diretas com as pessoas no espaço de informalidade da vida. Essa informalidade, tentamos mantê-la quando preparamos alguma publicação, desenvolvemos uma ação, produzimos algum filme ou mesmo quando atuamos nos espaços institucionais – onde as identidades e papéis sociais estão mais demarcados. E é por isso que, em nossas falas, procuramos sempre caracterizar nosso trabalho como produto de uma interação viva, com pessoas e paisagens, apresentando-o como uma construção em andamento, uma experiência atravessada por outros, um processo de descoberta que se pode experimentar viver sem a preocupação de fazer ou não fazer arte, sem categorizar, sem hierarquizar, sem dar nomes.
Horizonte Expandido é a primeira realização a tomar o formato de exposição em Areal e tem como principal objetivo apresentar artistas, obras e escritos produzidos na década de 1970 que tiveram ressonância na concepção do projeto. Criado como expressão de um estado de instabilidade, mutabilidade, crise e liberdade, Areal faz convergir em Horizonte Expandido instalações, imagens, filmes, fotografias, textos e documentos produzidos por artistas que inauguraram um importante debate sobre as formas de compartilhamento da arte e se inclinaram a tratar de uma problemática ainda presente na produção contemporânea: a construção e afirmação de novas possibilidades de contato da arte com a coletividade. Como tudo o que procuramos desenvolver em Areal, pode-se dizer que a mostra é norteada pelo princípio de “encontro”, não apenas entre público e obras, mas entre público e artistas presentes na exposição. Assim, são privilegiados obras e documentos que oportunizam a percepção do artista como um sujeito próximo no tempo e no espaço, uma presença viva na sala de exposição, de quem o público poderá ouvir a voz, ver a face ou ler um manuscrito. Além de nomes amplamente difundidos no cenário artístico mundial, como Bruce Naumam e Marina Abramovic, a exposição inclui também artistas pouco conhecidos do público brasileiro, tais como Victor Grippo, considerado o maior representante da arte conceitual argentina, e os precursores da performance filmada, Bas Jan Ader e VALIE EXPORT. Em séries fotográficas e filmes, Ana Mendieta, Chris Burden, Dennis Oppenheim e Marina Abramovic apresentam-se em experiências dramáticas, seja pelo caráter político ou pela provocação dos próprios limites físicos, emocionais e existenciais. Em contraponto, Dan Graham e Vito Acconci envolvem a audiência em elaboradas operações de comando e sedução, registradas em filmes que marcaram a história da performance conceitual. Em Horizonte Expandido, documentos e obras de Hélio Oiticica, Allan Kaprow e Joseph Beuys refletem a maturidade de sua produção e expressam um profundo entendimento da relação entre arte e vida. Gordon Matta-Clark e Robert Smithson representam momentos de uma reflexão que diagnosticou a galeria de arte como lugar limitado a representações do real, um cenário impossível para trocas verdadeiras com o público. Ao mesmo tempo, no esforço de compreender o problema, esses artistas produziram um comovente reencontro com o espaço expositivo, seja através dos non-sites (não-lugares), de Smithson, ou dos building cuts, fragmentos apropriados da arquitetura urbana por Matta-Clark. Smithson, cujos textos foram especialmente influentes na concepção de Areal, é trazido em voz, imagem e movimento em uma experiência antológica, o filme Spyral Jetty, que funde filosofia, cinema e experiência artística, em uma vertiginosa viagem através dos estratos bio-geológicos do planeta e das camadas de um tempo diante do qual a experiência humana parece insignificante.